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ENTREVISTA - Prof. Dra. Patrícia Cristina Statella Martins


Foto: Isa Melo
Foto: Isa Melo

A Prof. Dra. Patrícia Cristina Statella Martins é docente e atual Coordenadora do Curso de Turismo da UEMS/ Dourados. A entrevista é sobre sua tese, defendida em dezembro de 2018.


BIT: Prof. Patrícia, a senhora pode falar em linhas gerais sobre a sua Tese “As paisagens da faixa de fronteira Brasil/Bolívia: complexidades do Pantanal sul-mato-grossense e suas potencialidades para o Turismo de Natureza”?

A pesquisa realizada na tese teve como foco as paisagens do Pantanal da faixa de fronteira Brasil-Bolívia, nas adjacências de Corumbá/MS, Puerto Suárez e Puerto Quijarro/Santa Cruz. A paisagem é um dos recursos primordiais para a realização e desenvolvimento da atividade turística, por isso, o principal objetivo foi investigar a paisagem de maneira descritiva, analítica e de síntese, utilizando critérios como forma, estrutura e função. Os objetivos específicos visaram caracterizar o Pantanal brasileiro e boliviano; definir o conceito de Turismo de Natureza, sobretudo diferenciando-o do ecoturismo; caracterizar o Turismo de Natureza como uma das funções da paisagem. A partir da abordagem sistêmica e da paisagem como categoria analítica, foram realizados uma revisão crítica da bibliografia, trabalhos de campo e adotados procedimentos técnicos e operacionais a fim de espacializar e compreender a complexidade e a dinâmica, natural e social, que envolvem as paisagens da área de estudo. A paisagem foi compreendida a partir de componentes como geologia, relevo, vegetação e hidrografia – o geossistema da paisagem. O aspecto visual, que é o que interessa ao Turismo de Natureza, é resultado da relação entre os elementos físicos supracitados, ou seja, entre a estrutura e a forma da paisagem. A faixa de fronteira revelou expressividade do ponto de vista paisagístico, sobretudo em relação ao relevo na área central e no norte, na Serra do Amolar – um dos locais mais relevantes do ponto de vista da conservação, por sua singular beleza cênica e biodiversidade. Optou-se por uma abordagem segundo o conceito de Turismo de Natureza, um segmento que causa impactos ambientais negativos, e, ao mesmo tempo, carrega a ideia de uma Natureza idealizada como elemento central do fluxo turístico. Entende-se, assim, que a paisagem é o principal atrativo do segmento, mas a Natureza é um produto a ser consumido. Houve preocupação em diferenciar Turismo de Natureza daquilo que se entende como ecoturismo, o qual tem sido usado de maneira errônea, e, no caso do Pantanal, como um apelo de marketing. As paisagens do Pantanal boliviano e brasileiro, na faixa de fronteira, foram descritas e analisadas a partir do pulso de inundação a fim de demonstrar a sazonalidade e o ritmo natural das águas, elemento central dessa planície de alagamento. Este ritmo se destaca como a força central direcionadora e responsável pelas interações, existência e produtividade da biota, assim como o responsável pela paisagem heterogênea e pelos “pantanais do Pantanal”. Ao final, o Turismo de Natureza, que é uma das funções da paisagem, foi caracterizado, sobretudo, por meio da diversidade e da potencialidade para o desenvolvimento desse segmento e/ou o fomento de políticas públicas que incorporem o binômio desenvolvimento socioeconômico e preservação-conservação do Pantanal.


Serra do Amolar/MS - Foto: Marcelo Pontes
Serra do Amolar/MS - Foto: Marcelo Pontes

BIT: Prof. Patrícia, de que maneira a sua tese “As paisagens da faixa de fronteira Brasil/Bolívia: complexidades do Pantanal sul-mato-grossense e suas potencialidades para o Turismo de Natureza” que a senhora defendeu é importante para a UEMS e para o curso de Turismo?

Primeiramente pela oportunidade que a instituição me deu para me capacitar. Tive apoio integral da UEMS para o Doutorado ficando afastada de minhas atividades docentes e me dedicando exclusivamente ao Doutorado. O docente ao se capacitar retorna com mais conhecimentos e outras competências que são aplicadas tanto em sala de aula quanto em suas pesquisas e outros trabalhos institucionais. Uma das coisas que aprendi foi a especializar dados e a utilizar os trabalhos de campo como aliados do ensino, da pesquisa e da extensão. E isso a partir de agora faz parte de minha prática docente e será uma contribuição importante para o curso de turismo e para os meus alunos.

Além disso, durante esse período tive a oportunidade de atuar como Secretária Executiva da Revista Entre Lugar do Programa de Pós-Graduação em Geografia que cursei e aprendi muito. Além disso participei de diversos eventos sendo um deles internacional e tive a oportunidade de publicar parte da tese pela Springer que é uma editora reconhecida internacionalmente na área de geociências e meio ambiente. A publicação apresenta uma parte do capítulo 5 da Tese onde foi feita a caracterização do Pantanal na área de estudo. A publicação faz parte do Livro The physical geography of Brazil – environment, vegetation and landscape que apresenta a comunidade científica internacional o panorama físico do Brasil (Espaço Natural: geologia, clima, relevo, solos, vegetação, recursos hídricos e principais questões ambientais) apresentando os principais domínios Morfo-bio-climáticos. O capítulo que publiquei juntamente com o meu orientador e co-orientador apresenta as características do Pantanal. Quem quiser conhecer a publicação acesse o link https://www.springer.com/gp/book/9783030043322

Inclusive recebi uma Moção de Congratulação pela Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul (proposta pelo Deputado Renato Câmara) por ter publicado a tese neste livro.

Considerando que uma das metas do curso é a verticalização essas experiências certamente contribuirão com esse objetivo.


BIT: Quais foram as contribuições para o Estado de Mato Grosso do Sul? (produtos, avanços)

O Pantanal, mesmo sendo parte de outros países, geralmente é retratado apenas em relação a área brasileira e está no campo das geociências. No entanto, considera-se importante avançar o estudo para além do Brasil e de maneira transversal, e, por esse motivo, este trabalho foi além de uma simples análise isolada das paisagens do Pantanal brasileiro ao propor uma análise do Pantanal na faixa de fronteira Brasil e Bolívia sob o ponto de vista do Turismo de Natureza que é uma atividade econômica relevante e uma das funções da paisagem. Nesse sentido, uma das contribuições e mesmo avanço foi caracterizar o Pantanal boliviano na área de estudo trazendo aspectos de sua vegetação, relevo, geologia, hidrografia e também aspectos da atividade turística sobretudo do Turismo de Natureza. Certamente tais aspectos somados às questões de fronteira que também são tratadas na tese contribuíram para que a pesquisa fosse financiada pela FUNDECT.

Especificamente sob o ponto de vista do turismo acredita-se que os turistas desconhecem a complexidade da paisagem da região; o Pantanal da faixa de fronteira precisa ser descoberto. Os atrativos ficam espalhados ao longo da estrada-parque ou mesmo pelo Rio Paraguai; na Bolívia, encontra-se em Otuquis e San Mathias. Os balneários, apesar de serem locais com paisagens cênicas interessantes e oferecerem estrutura para day use ou mesmo pernoite, são apenas frequentados pela comunidade local, tanto no Brasil quanto na Bolívia. O turista que vai às compras geralmente não tem ideia de que ali existem duas cidades, Puerto Suáerz e Puerto Quijarro, e que para além dos centros urbanos, existem paisagens do Pantanal boliviano e locais como o píer da Lagoa Cáceres.

Ainda tratando da relação íntima entre paisagem e turismo, acredita-se que seja imprescindível nomear adequadamente os segmentos turísticos desenvolvidos no Pantanal. O termo ecoturismo não pode ser banalizado e utilizado para qualquer atividade realizada em áreas naturais como tem sido feito, sobretudo por um apelo de marketing. A definição de ecoturismo possui princípios solidificados e relacionados à ética ambiental, à experiência efetiva com a Natureza, aos benefícios para a comunidade local, à conservação do meio ambiente, aos mínimos impactos e à consciência ambiental por parte dos turistas. As demais atividades que não possuem tais princípios são o Turismo de Natureza que é definido na tese e é algo que deve ser considerado pelo trade e poder público para que fique claro que a maioria das atividades realizadas no Pantanal não são de ecoturismo.

A apresentação do termo Turismo de Natureza surge com a preocupação de representar um segmento turístico que tem como principal atrativo a paisagem natural, com um caráter idealizado, mas que causa impactos ambientais negativos

Além disso, a tese também caracteriza a Serra do Amolar que ainda não é divulgada e trabalhada pela atividade turística.

Com relação aos produtos, destaco os mapas produzidos que poderão ser utilizados tanto pela iniciativa privado/trade turístico quanto pelo poder público. No link abaixo é possível conhecer mais sobre a tese e visualizar esses produtos


O BIT agradece à Professora Patrícia Martins pela entrevista concedida.

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